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Caminhar no deserto, olhar as estrelas

Ainda hoje há um país africano colonizado. O Saara Ocidental foi ocupado pelo Marrocos em 1976, depois de quase noventa anos de invasão espanhola, e esteve em guerra por independência até 1991, quando uma missão da onu foi instalada com a promessa de realizar um plebiscito sobre a determinação do país.  Os quase 266 mil …

Lição de casa

Estamos lá pelo ano de 2002, sou uma das vinte crianças em uma turma de pré-escola, talvez com cinco anos. A professora está na frente da lousa, se preparando para iniciar um ditado. “Serão dez palavras”, ela diz, “dez palavras com G ou J”. Antes de começar, ela se dirige a nós, sua voz clara, …

Entrevista com Jerônimo Bittencourt

A ideia para as intervenções surgiu logo no terceiro encontro do Contrafaccionistas, um campo de investigações poéticas que coordenei durante os anos de 2018 e 2019, sediado no espaço multiartistico Capital 35. Meu desejo era agregar pessoas para que, juntos, pudéssemos extrapolar a ideia de fruição que a poesia carrega em si e, através de …

A fumaça depende da direção do vento

por Ana Paula Pacheco É o último dia antes do fim do semestre. Já fiz a mala com as roupas compradas na Decathlon. Jaqueta corta-vento, chapéu de safari, duas calças que viram bermudas e têm a vantagem da secagem rápida. Camisetas, maiô. Um tênis de tracking, um tênis anfíbio. Duas lingeries transparentes, uma vermelha e …

O corpo leitor

por José Henrique Bortoluci A leitura é, antes de tudo, uma atividade física. Aprender a ler é também aprender como segurar o livro usando uma ou duas mãos, ajustar a distância entre o papel e os olhos, medir o peso da matéria livro, calcular se é necessário apoiá-lo em uma superfície ou se basta a …

O dilúvio nosso de cada dia

. Uma proposta de revegetação para o século 21 No dia 2 de maio de 2024, uma rápida pesquisa no Google sobre as enchentes no Rio Grande do Sul revelou mais de 6,5 milhões de resultados. Um alerta vermelho de inundação encabeçava a página, enquanto as notícias principais falavam de mortos, homens e mulheres cujas …

O fracasso da “flâneuse”

Foto: arquivo pessoal Sou encantada pelo livro Flâneuse, em que a escritora estadunidense Lauren Elkin escreve sobre caminhar por várias cidades (Paris, Nova York, Veneza, Londres e Tóquio) na companhia de outras personalidades que flanavam por essas mesmas localidades, como Jean Rhys, Virginia Woolf, Sophie Calle, entre outras. A parte sobre Tóquio, no entanto, destoa …

Antes das Diretas Já

A minha geração, de meados dos anos 1950, teve uma adolescência e primeira juventude à sombra da anterior, marcada por todos os excessos, do heroísmo inglório da luta armada ao anticonsumismo hippie do desbunde comportamental. Tudo parecia remeter a um romantismo gauche que recobria de certo glamour os nascidos nos anos 1940. No Golpe de …

A voz da tia Nazira

Outro dia, viajando pelo interior de São Paulo para entrevistar descendentes de árabes, me deparei com uma história bonita. Marcia e Elias Gibran, que me receberam em Araraquara, contaram sobre as fitas cassete que sua tia Nazira enviava da Síria aos familiares no Brasil para que eles pudessem ouvir sua voz. É uma narrativa delicada, …

Três perguntas para Dennis Duncan

1. Seu livro é brilhante em desautomatizar a visão que temos de coisas cotidianas para pôr foco no índice, por exemplo a ordem alfabética, a relação entre índice e a organização de uma cozinha, a onipresente busca no Google e por aí vai. Houve exemplos que ficaram de fora, mas que você gosta de utilizar …

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