Três perguntas para Lucia Sano, tradutora finalista do Prêmio Jabuti
Por que ler os clássicos?
Acho que eu poderia enaltecer o legado ou a atualidade dessas obras… de fato, estamos vivendo um momento interessante, que é tanto de reconhecimento do aspecto negativo do legado da Antiguidade greco-romana para nossa sociedade quanto de grande revisitação desse passado para falar sobre questões do presente, como recentemente têm demonstrado as várias Medeias e Antígonas brasileiras. No entanto, quando dou aulas para estudantes calouros no curso de Letras, ressalto que eles devem encontrar a própria resposta para essa pergunta. Afinal, essa questão hoje é feita com sinceridade ou, mudando-se o tom, de forma desdenhosa; muitos afirmam que ensinar grego ou latim é bobagem ou que os clássicos não têm mais nada para nos dizer. O leitor deve ter a oportunidade de formar sua própria opinião e não há como fazer isso sem o contato direto com os textos.
Quais os maiores desafios da tradução?
São muitos e acho que os clichês são verdadeiros: é difícil encarar a sensação de intraduzibilidade e, considerando os contextos distintos de produção do texto original e da tradução, conseguir reproduzir o espírito mais do que a letra. De qualquer modo, como tradutora, não me interessa esconder que o texto antigo passou por diversas intermediações, a tradução sendo uma delas, e que não há acesso direto possível ao mundo antigo. No caso de autores tão distantes no tempo, como Xenofonte, é necessário ponderar o quanto se aproximar do contexto do leitor atual e o quanto enfatizar que o que temos ali é um mundo que se assenta numa outra base de conhecimento, de valores e de imagens.
O que esperar da leitura de Xenofonte?
Espero que os leitores encontrem prazer. A Ciropédia é um texto considerado por especialistas em Antiguidade como historiográfico e é inegável que o Xenofonte que foi discípulo de Sócrates também pode ser visto na obra. Ela é, porém, também uma espécie de romance avant la lettre porque muito dela é ficção, a narrativa flui, os diálogos são ótimos, alguns personagens nos comovem. E o interessante é que, embora Ciro seja apresentado como um líder ideal, o retrato não é totalmente positivo e leva a pensar se seria mesmo bom para o povo ter um rei como ele.
Lição de casa
Estamos lá pelo ano de 2002, sou uma das vinte crianças em uma turma de pré-escola, talvez com cinco anos. A professora está na frente da lousa, se preparando para iniciar um ditado. “Serão dez palavras”, ela diz, “dez palavras com G ou J”. Antes de começar, ela se dirige a nós, sua voz clara, …
[saiba mais]Lição de casa
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[saiba mais]Entrevista com Jerônimo Bittencourt
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